Certa vez, uma senhora reclamou de um determinado pregador e, quando a questionei sobre qual era o problema, ela disse: "Esse pregador é sem educação que nem cumprimentou a igreja". Esse problema aconteceu porque o pregador leu o texto e já começou lançando o tema, passando para as argumentações. Na verdade, ela sentiu falta de um simples "boa noite" quando o pregador assumiu a palavra, mas o que pude discernir é que a sua falha foi não ter pensado em uma boa introdução. Na linguagem de Bryan Chapell, "A introdução é o aperto de mão do bom intento do pregador. Com estas palavras de abertura o pregador da as boas-vindas aos ouvintes interessados no sermão, enquanto lhes assegura que é importante e bom o que estão a ponto de ouvir."
A. OS OBJETIVOS DAS INTRODUÇÕES
A introdução tem vários objetivos e propósitos, Apresento aqui um resumo e adaptação da exposição de Bryan Chapell sobre os objetivos das Introduções, a fim de ressaltar a importância dessa parte inicial do sermão:
O primeiro objetivo da Introdução é despertar o interesse pela mensagem - quando o ouvinte chegou à igreja, ou local de pregação, veio depois de várias atividades e preocupações com seus problemas pessoais. A liturgia procura focar sua atenção na adoração e no momento de culto congregacional, e, se atingir o objetivo, essa liturgia faz com que o ouvinte esteja preparado para ouvir a mensagem. Entretanto, se o pregador não mostra a ele que o que será pregado é de seu interesse, sua mente voltará a pensar em seus problemas e crises. A ideia, então, é prender a atenção do ouvinte; na linguagem de sala de aula, costumamos dizer que o objetivo da introdução é "fisgar" o ouvinte, assim como o pescador fisga o peixe: mesmo que queira fugir o peixe está firmemente ligado ao pescador. Quando o pregador faz uma boa introdução, o ouvinte fica curioso e ansioso por ouvir o que será exposto.
O segundo objetivo da Introdução é apresentar o tema da mensagem fazer com que o ouvinte compreenda que o assunto a ser pregado tem relevância para sua vida. Ora, se o pregador expoe uma introdução que mostre um assunto relevante, mas prega sobre outro assunto, o ouvinte se sentirá enganado. "Uma introdução que suscita interesse, mas não atrai a atenção sobre o tema, na verdade dá aos ouvintes uma falsa direção." Se na introdução o pregador resolve apresentar uma ilustração ou uma história, esta deve estar intimamente ligada com o que vai ser pregado. "A introdução de uma mensagem tem o importante papel de chamar a atenção do auditório para pensar sobre o tema que o pregador pretende abordar." Pode ser que esteja empolgado para despejar as informações cintilantes que descobriu durante as horas de preparo, mas isso não quer dizer que o auditório esteja ansioso esperando uma palavra viva de Deus. Assim, se o pregador tem uma excelente ilustração, mas que não tem nada lá que ver com o assunto do sermão, ele deve guardá para outra ocasião.
O terceiro objetivo da introdução é de monstrar interesse pelos ouvintes é o ponto que argumentamos no início deste capítulo. Aqui o pregador mostrará que não vai pregar porque é sua obrigação, mas porque tem a boa intenção de abençoar os ouvintes, trazendo-lhes a boa Palavra de Deus. Mostra que o pregador está em contato com o mundo do ouvinte, quer ajudar, está aberto às suas necessidades e quer usar a Bíblia como instrumento de Deus. A introdução do sermão é que faz o ouvinte se sentir como um amigo que chega à casa de outro. E isso traz a pré-disposição que para ouvir com atenção e receptividade o sermão que será pregado. "Logo no início do sermão, portanto, os ouvintes devem perceber que o pastor está lhes falando acerca deles mesmo. Ele faz uma pergunta, identifica um problema ou uma necessidade, revela um ponto vital de debate ou qual a passagem fala. A aplicação começa na introdução, não na conclusão."
O quarto objetivo da introdução é preparar para a proposição - a maioria dos livros de Homilética concorda que a introdução prepara o ouvinte para o corpo do sermão. Desta forma, a introdução deverá ser pertinente com a proposição (ou tema) do sermão, uma vez que ela é um resumo do conteúdo, do corpo do sermão. É por isso que até a terminologia usada deve ser a mesma, a fim de fazer a ligação entre o que apresentado na introdução e no tema do sermão. Não faça uma introdução com uma ilustração sobre uma criança que se perdeu para falar sobre "A Benção do Dizimo", São dois assuntos diferentes.
B. AS CARACTERÍSTICAS DAS INTRODUÇÕES - Uma boa introdução é vital para a compreensão da exposição bíblica. Para ser boa, a introdução deve ter as seguintes características:
Em primeiro lugar, a introdução deve ser interessante - é o momento de conquistar a atenção do ouvinte, e de ele resolver se quer ou não prestar atenção ao que o pregador tem a dizer. Normalmente, a introdução é feita com uma ilustração, uma história que fascina o ouvinte, conquista sua atenção, e traz um tema que o faça querer ouvir o sermão. Se a introdução for desinteressante, sem empolgação e irrelevante, o que o ouvinte vai pensar sobre o sermão? Nesse caso, seria melhor que não houvesse introdução para não atrapalhar o sermão. O certo, então, é que a introdução seja o ponto principal, o golpe inicial, a fisgada que vai manter o ouvinte preso ao pregador até a última palavra.
A segunda característica da introdução é que ela deve ter objetividade - em outras palavras, ela deve ter uma razão para existir e estar ali. A introdução precisa conduzir ao tema do sermão, sendo o chamariz para cativar o ouvinte. Certa vez, na aula de Prática de Pregação do seminário, um aluno apresentou uma introdução que não tinha nenhuma relação com o conteúdo do sermão. Isso estava tão evidente que ele mesmo argumentou: "vocês devem estar pensando: o que isso tem a ver com o texto? Na verdade, nem eu sei!". Apesar de gerar gargalhadas em todo o auditório, esse fato mostrou que o pregador não havia preparado corretamente a introdução do sermão.
A terceira característica da introdução é que ela deve ser breve - não pode ser uma antecipação de todo o sermão, nem um mini sermão à parte. O pregador precisa ter capacidade de sintetizar o que quer dizer, para não cansar, nem enrolar o ouvinte. Se a introdução não for direto ao ponto, ela deixa de ser interessante; portanto, é necessário selecionar bem o que será incluído e o que será excluído da introdução. Tudo aquilo que não tem relevância para o tema do sermão deve ser descartado. É boa a seguinte comparação: "Talvez pudéssemos comparar a introdução a uma pedrada, que em poucos segundos chama a atenção, causa impacto, quebra a vidraça, mostra o que há no interior do aposento e desaparece." Ninguém mais vê a pedra, mas todos ficam olhando para o aposento! Note que uma pedrada na vidraça tem o poder de acordar todos os que estiverem dormindo nas proximidades e fazer com que todos olhem na sua direção. Assim deve ser a introdução: tem de acordar os dorminhoco.
A quarta característica da introdução é que deve ser clara - ou seja, ter linguagem acessível ao ouvinte. Se o ouvinte tem que se esforçar para compreender a introdução, então o pregador não soube desenvolvê-la. Na introdução não se deve usar palavras desconhecidas, nem linha de raciocínio complicada. Uma ilustração que envolva a experiência de alguém numa montanha de neve talvez não seja a mais apropriada para ser usada num país tropical, como o nosso, onde possivelmente nenhum dos ouvintes conheça neve. Por outro lado, se a introdução trata de experiências comuns ao dia a dia de nossos ouvintes, então ele será conquistado com maior facilidade e terá maior predisposição em ouvir o sermão, Portanto, seja claro e use vocabulário acessível.
A quinta característica da introdução é que ela deve ser bem planejada - apesar de ser óbvio, é necessário ressaltar essa característica, porque muitos pregadores caem no erro de gastar tempo na exploração do texto e deixar a introdução para fazer de improviso na hora da exposição. No início, afirmamos que o pregador deve preparar a introdução por último, depois de elaborar o corpo do sermão, para saber como fazer uma introdução que seja impactante e que conduza ao tema e conteúdo do sermão. Por isso, em lugar de ser menos importante, na verdade ela precisa de atenção especial em virtude de abrir o sermão e ser o "cartão de apresentação" do pregador. Pela introdução, o subconsciente do ouvinte resolve se quer ou não ouvir o restante da exposição.
C. ELABORANDO A INTRODUÇÃO
Estando claros os objetivos e as caracteristicas da introdução, é necessário abordar as estratégias para elaborar boas introduções para o sermão. Lembre-se de que, nesse ponto, o sermão já deve estar pronto, e na mente do pregador está todo o panorama geral do seu conteúdo. Assim que o pregador toma a palavra, ele faz uma saudação ao auditório, e essa NÃO É a introdução do sermão! Atenção neste ponto, porque essa saudação é uma forma de aproximação do ouvinte, necessária E eficiente, mas ainda não começou o sermão. Este começa depois da leitura do texto, e é pouco produtivo lançar a introdução antes da leitura. "O reconhecimento de que a introdução é uma preparação imediata para a proposição adverte os pregadores a evitar separar a introdução do corpo com a leitura da Escritura. Essa saudação inicial é ótima oportunidade para mostrar a todos que o pregador é cordial e está à vontade no púlpito. Alguns autores de Homilética sugerem que o pregador estabeleça com clareza o limite entre as demais partes do culto e a pregação, ou fazendo uma pausa silenciosa para que seja perceptível a mudança de atividade, ou usando um comentário acerca de algo que acabou de acontecer no decorrer do culto. O pregador poderia, por exemplo, fazer a seguinte saudação: - "Depois de um período tão abençoado de adoração, VOLTEMOS agora nossa atenção ao estudo da Palavra viva de Deus..." Ou ainda: "Obrigado ao Conjunto Coral por enlevar nosso espirito com tão lindos cânticos de adoração ao nosso Deus. Vamos abrir nossas Biblias..."
Ou, se a música versou sobre o tema da mensagem: - "Obrigado, José, por esta música especial. Deus tem falado muito ao meu coração com este cântico e gostaria, nessa noite, de compartilhar com os irmãos acerca disso..."
Aí vem a leitura do texto bíblico. Veja que a ideia é que o pregador precisa mostrar naturalidade ao dar sequência às partes do culto, demonstrando ter feito um trabalho em equipe com quem está conduzindo a liturgia. Depois da leitura bíblica é que vem a Introdução do sermão, que pode ser uma ou mais de uma das formas anotadas a seguir:
A Introdução pode ser um relato de algo do conhecimento do ouvinte uma breve descrição de algum evento ou história da experiência de alguém com quem os ouvintes são compelidos a identificar-se. "Se o relato é sério ou engraçado, se deriva da História ou da vizinhança, se procede de algo real onde pessoalmente experimentado, a incomparável capacidade dessas histórias de cativar a atenção e apontar aos interesses biblicos, faz delas formas fundamentais de introdução ao sermão". Um fato que aconteceu pode ser uma excelente introdução a um sermão. Na semana seguinte a um acidente aéreo com muitas vítimas fatais no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando todo o país estava impactado e consternado com aquela tragédia, um pregador iniciou o sermão com ar sério, e fez uma narrativa cronológica do acidente e de quantas pessoas morreram ali. Ele terminou sua introdução com a pergunta: "onde Deus estava naquele momento?", Depois de uma pausa silenciosa, ele continuou: "É sobre isso que meditaremos hoje na exposição deste texto!". Posso garantir que nunca tinha visto antes um auditório tão atento às palavras do sermão, porque o pregador não só tratou de um tema relevante e atual que incomodava o coração de cada ouvinte ali, como, também, caprichou na introdução do sermão.
A Introdução pode ser uma contundente declaração - que incomode ou espante o ouvinte. Duvido de que alguém deixe de prestar atenção em um sermão se o pregador introduzi-lo desta maneira: "Hoje quero falar acerca de uma fofoca que está matando nossa igreja e o que devemos fazer a este respeito" (quem sabe de alguma fofoca vai prestar atenção com medo de ter sido descoberto, e quem não sabe vai prestar atenção por curiosidade). Ou ainda esta: "Jay Adams oferece este espléndido exemplo: Há um criminoso assentado nessa congregação hoje... Estou falando sério. Ontem mesmo ele assassinou alguém. Julgou não ter sido visto por ninguém, mas estava enganado. Tenho uma declaração escrita por uma testemunha ocular, que vou ler. Aqui está o que ela diz: Todo aquele que odeia a seu irmão é um assassino' [1 Jo 3.15] " Só não se esqueça do que já estudamos: a introdução tem, obrigatoriamente, que conduzir ao tema. Cuidado para não falar sobre algo que não está de acordo com o que vai ser pregado no sermão.
A Introdução pode ser uma pergunta ou frase provocativa - que desperte a atenção do ouvinte, fazendo-o pensar em algo que talvez nunca tivesse pensado antes. O exemplo de Haddon Robinson ilustra bem esse ponto, citando algumas perguntas sérias para mexer com os ouvintes: "Uma mulher que trabalha fora de casa pode ser boa mãe? O que você diz? E o que a Bíblia diz?". Com certeza esta pergunta estará incomodando muita gente: o marido cuja mulher trabalha fora quer saber da resposta a esta pergunta, tanto quanto a esposa que tem o seu emprego e vive com a consciência intranquila com a criação dos filhos. E mais: a mulher que não tem emprego fora de casa, mas tem grande necessidade de ajudar o marido no sustento do lar, também estará muitíssimo interessada nesse sermão. Até as jovens solteiras que estão estudando e se preparando para constituir sua própria família terão interesse nesse tipo de sermão; ou os filhos cujas mães têm emprego fora de casa. Veja que o tema é relevante e atual, mas o primeiro trabalho do pregador na hora da exposição é preparar uma introdução que "fisgue" a atenção de todos e lance a ideia.
A introdução do sermão pode ser, também, estatísticas contundentes - talvez algo que as pessoas nunca tenham pensado e que sirva para despertar o interesse naquele momento da exposição. Num sermão acerca da "Segurança do Crente", um pregador fez uma introdução mostrando um jornal, no qual constava uma estatística de que o Hospital de Urgência da cidade havia registrado o atendimento médio de 57 acidentes de motociclistas POR DIA! (a informação de que era diária foi muito bem destacada por ele). Fora os acidentes que não geraram atendimento médico ou que foram atendidos em outros hospitais. Ele leu na reportagem que vários acidentes foram com automóveis e ônibus, outros com pedestres que atravessavam a rua, outros por imprudência e imperícia do motociclista, foi citando. Obviamente, o pregador se certificou de atingir todas as pessoas do auditório, porque ou eram motociclistas, ou motoristas, ou pedestres (ainda falou sobre os pais que enviam seus filhos para a escola e não sabem se voltarão...). Na parte final de sua introdução, ele foi comentando esses dados, e encaminhando o argumento para a insegurança que todos temos no dia a dia. Então disse: "...E é sobre isso que fala o texto que vamos estudar hoje". Você pensa que alguém deixou de prestar atenção à mensagem? e assim, A introdução do sermão pode ser a citação de uma poesia - desde que se tenha o cuidado de lembrar que está no púlpito, e, portanto, não pode ser qualquer poesia, esse tipo de literatura é muito boa para conquistar a atenção do ouvinte. Cito como exemplo um sermão que ouvi há muito tempo, quando o pregador começou com uma poesia de Gióia Júnior intitulada "Nada era Dele". O pregador leu o texto e, depois de orar, solicitou a atenção do ouvinte para a seguinte poesia:
Disse um poeta um dia, fazendo referência ao Mestre amado:
"O berço que Ele usou na estrebaria, por acaso era dEle? - Era emprestado!
E o manso jumentinho, em que, em Jerusalém, chegou montado e palmas recebeu pelo caminho, por acaso era dEle?
Era emprestado!
E o pão - o suave pão que foi por seu amor multiplicado alimentando toda a multidão, por acaso era dEle?
Era emprestado!
E os peixes que comeu junto ao lago e ficou alimentado, esse prato era seu?
Era emprestado!
E o famoso barquinho? aquele barco em que ficou sentado, mostrando à multidão qual o caminho, por acaso era dEle?
Era emprestado!
E o quarto em que ceou ao lado dos discipulos, ao lado de Judas, que o traiu, de Pedro, que o negou, por acaso era dEle?
Era emprestado!
E o berço tumular, que, depois do Calvário, foi usado e de onde havia de ressuscitar, o túmulo era dEle?
Era emprestado!
Enfim, NADA era dEle!
Mas a coroa que ele usou na cruz e a cruz que carregou e onde morreu, essas eram, de fato, de Jesus!" Isso disse um poeta, certo dia, numa hora de busca da verdade; mas não aceito essa filosofia que contraria a própria realidade...
O berço, o jumentinho e o suave pão,
os peixes, o barquinho, o quarto e a sepultura, eram dEle a partir da criação, "Ele os criou" - assim diz a Escritura...
Mas a cruz que Ele usou - a rude cruz, a cruz negra e mesquinha onde meus crimes todos expiou, essa não era Sua,
ESSA CRUZ ERA MINHA! Aquela poesia expressava exatamente o tema do sermão daquele dia, que traballhou a ideia de tomou sobre si as nossas "dores". Naquela ocasião o pregador preparou o ouvinte, mostrando com uma poesia que o assunto do sermão tinha relevância. que Ele E o que dizer da poesia secular? Quando falamos disso, temos que ressaltar o cuidado que o pregador deve ter na escolha de tal poesia. Pode ser usada, desde que com muito critério. Na verdade, o apóstolo Paulo usou de poesia secular em um de seus sermões (At 17.27), mas não deve o pregador exagerar no uso de tais literaturas. Deixe-me citar um exemplo de uso de poesia secular. Ouvi um pregador que fez a introdução de um sermão sobre "O Lar Celestial" usando o poema "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias, falando dessa forma: "Um poeta escreveu certa vez a seguinte poesia:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra, Sem Sem que eu volte que para lá; desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá".
E a partir dali ele continuou sua introdução, mostrando que o poeta expressava a saudade daqueles que estão fora de sua pátria, e passou a ligar essa saudade com o texto que afirma que somos peregrinos e que temos um lar celestial. É claro que todos nós, que estávamos no auditório, sabíamos que se tratava de uma poesia secular que aprendemos na escola e com aquela poesia ele tinha arrebatado nossa atenção, porque todos nós ficamos pensando sobre onde ele queria chegar, usando uma poesia secular. Novamente é necessário afirmar aqui o princípio do bom senso do pregador, e aconselhar que se busque outro tipo de poesia para a introdução, uma vez que há um grande risco de provocar escândalo nos ouvintes, principalmente aqueles de mais idade.
A introdução do sermão pode ser, ainda, citações de eventos históricos ou contemporâneos, que sirvam para ilustrar o tema do sermão. O pregador pode evocar fatos históricos conhecidos do auditório, como a independência do Brasil ("Independência ou Morte!"), o dia do Fico ("...digam ao povo que fico!"), eventos e relatos da segunda guerra mundial, e milhares de outros fatos. Mas, neste, ponto, deixo dois alertas: primeiro, verifique a exatidão da informação histórica. Lembre-se de que no auditório poderá haver uma pessoa (um professor de História, por exemplo) que tem conhecimento minucioso da informação. Isso me aconteceu certa vez quando citei, na introdução de um sermão, a narrativa de um evento envolvendo Alexandre, o Grande. Afirmei na ilustração que ele era "general macedônio" e, no final do culto, um professor universitário cumprimentou-me e disse: "boa informação, pastor, porque a questão que os alunos mais erram no vestibular é a afirmação de que Alexandre era Grego". Fiquei aliviado por ter gasto um pouco mais de tempo na pesquisa histórica. Apesar de ser uma questão irrelevante (Macedônio ou Grego), naquele momento eu poderia ter perdido um ouvinte por citar uma informação histórica errada. Aliás, o pregador deve tomar muito cuidado com as informações retiradas da internet, porque nem sempre são confiáveis. O segundo alerta é: jamais emita juízo de valor sobre os acontecimentos citados. Principalmente se for um evento dos dias atuais, uma notícia da semana. Não mostre sua opinião sobre os personagens e eventos. Você pode achar um determinado político corrupto, mas, como você não pode provar isso, não faça essa afirmação no púlpito; mesmo porque pode haver no auditório um parente ou amigo do tal político, e esse será um ouvinte que você perderá pelo simples fato de ter emitido uma opinião. Além disso, não compete a você usar do precioso tempo de exposição da Bíblia para alimentar discussões ou julgar quem quer que seja.
Enfim, a introdução do sermão pode ser feita utilizando-se de diversas estratégias. O conselho dos pregadores mais experientes é que nada funciona o tempo todo. Por isso, o pregador deve sempre diversificar, semana após semana.
A introdução, portanto, é a parte do sermão que acontece depois da leitura do texto e da oração, e antes do lançamento do Tema do sermão. "Jay Adams oferece este conselho severo: Não comece com o texto; comece com a congregação, como faziam Pedro e Paulo. Retorne à passagem da Escritura só quando tiver orientado adequadamente sua congregação para o que eles ali encontrarão, e só quando você tiver despertado interesse suficiente para que queiram saber do que se trata" Como já foi colocado, a introdução tem o objetivo de "fisgar" o ouvinte. Agora é a hora de jogar o ouvinte "dentro" do texto. Veja que a introdução tem um caráter de contato com o ouvinte, e, por isso, não trata do texto lido, mas de alguma ilustração interessante que capta a atenção. Entretanto, agora é preciso aproveitar essa atenção e passar a mostrar os detalhes do texto. Essa é a função da Narração.
A NARRAÇÃO DO SERMÃO
A narração do sermão é a parte na qual o pregador prepara o ouvinte para compreender o texto. A introdução conquistou a atenção e conduziu o ouvinte para o tema. Agora, o pregador vai passar para o ouvinte todas as informações necessárias para a compreensão do texto. Preste atenção na parte em itálico: diz respeito às informações necessárias. Durante a pesquisa e estudo do texto, o pregador obteve um número enorme de informações sobre o seu conteúdo, sobre o tema, sobre os aspectos históricos, culturais e geográficos que envolviam os eventos da passagem. O que será repassado para o sermão serão apenas as informações estritamente necessárias para a compreensão do texto. Num sermão que ouvi recentemente, o pregador gastou boa parte do seu tempo explicando que, na cultura dos tempos bíblicos, a palavra "carpinteiro" era frequentemente usada para se referir a quem trabalhava com construção, podendo significar também "pedreiro". Ora, essa informação não contribuiu absolutamente com nada para o sermão que falava sobre as "acusações injustas que caíram sobre Jesus". Era, portanto, irrelevante transmitir este conhecimento, pois algum ouvinte poderia ficar pensando nisso durante a exposição do sermão, o que desviaria o foco de sua atenção.
A narração precisa ser bem elaborada principalmente no que se refere a selecionar o que será incluído. Vamos trabalhar em um exemplo. Caso o pregador esteja preparando um sermão sobre o encontro de Zaqueu com Jesus (Lucas 19.1-10), existem algumas palavras que precisam de explicação específica para se compreender o texto: como era a cidade de Jericó? Qual a sua distância de Jerusalém? que era um publicano? E o maioral dos publicanos? O que era um sicômoro? Qual era o tamanho dessa árvore? Por que ele se dispôs a restituir quatro vezes mais? O que dizia a lei da restituição?
Veja que essas informações não precisam fazer do corpo do Sermão, mas precisam ser esclarecidas parte para que o ouvinte possa compreender o texto. A narração segue as mesmas orientações da introdução, ou seja: tem que ser breve, objetiva, completa e direcionar para o tema. Ela é inserida entre a introdução e o tema, com a finalidade de estabelecer o "pano de fundo" para entender o texto. Um sermão sobre o texto de Zaqueu poderia ser como o exemplo que se segue (a pregação em si é o que está na coluna da direita):